Li em uma das crônicas de Rubem Alves que Sthéphane Mallarmé (pronuncia-se Mallarmê), poeta francês do século XXIX, sonhava em criar um poema de uma palavra só, buscava uma palavra que contivesse o mundo.
Uma única palavra...
Ás vezes o sonho é mais importante do que o real, a busca é mais importante do que chegar ao objetivo, que muitas vezes é inalcançável...
Em outras artes certamente é mais fácil. Na música, Tom Jobim criou o “Samba de uma nota só”, na arte moderna mais fácil ainda, um objeto qualquer é transformado em arte, na pintura existem muitas telas com um pingo no meio ou coisa parecida, mas na poesia...
Voltando ao poeta, Mallarmé defendia que um poema não se faz com idéias, mas com palavras, que um poema deveria ser visto com um objeto em si mesmo. Também dizia que “um poema é um mistério cuja chave deve ser procurada pelo leitor”.
Nesse segundo caso concordo com ele, mas não só em relação a poesia. Em relação a qualquer forma de arte, ou muitas vezes em relação até ao que falamos cotidianamente. Acho absurdo exigir numa interpretação de texto uma única resposta. As palavras ou a junção de palavras nos dizem coisas diferentes. Querem fazer a ditadura da interpretação, do pensamento único...
Um caso clássico é o poema de Drummond, “ No meio do caminho”, onde existem várias e várias interpretações, e, segundo dizem, quando perguntado a respeito ele se saiu com a mais óbvia delas, que era uma pedra real no meio de uma caminho qualquer, nada mais do que isso...
Uma interpretação de texto deveria ser avaliada como uma redação. A interpretação é uma coisa subjetiva, cada palavra pode ter um significado diferente para cada um de nós, e mesmo para uma mesma pessoa ela pode variar, dependendo da fase da vida ou pelo momento pelo qual passamos...
Fui falar sobre uma palavra...
Uma única palavra...
E para falar sobre ela foram necessárias várias, várias, várias...
Nas imagens duas interpretações para uma mesma pessoa.
Mallarmé numa foto e na visão do pintor Édouard Manet.
Escolha a sua...
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