sábado, junho 18

Começar já é metade de toda a ação IX - Existem leis que não são escritas...

Estava eu dirigindo meu carro, quando vi um pouco à frente um sinal amarelo.
Pensei comigo mesmo: tantas vezes vejo um sinal amarelo e ele se transforma em vermelho antes da minha passagem...
Não seria a hora de eu começar a fazer a coisa certa?
Há tantas campanhas dizendo: Evite acidentes, não avance o sinal vermelho!
Caetano disse uma vez: Enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos, e perdem os verdes, somos uns boçais...
            Eu não estava num fusca ou numa moto, mas dava pra entender perfeitamente a poética dos versos.

            A mente é prodigiosa, não?  Em questão de segundos nosso cérebro consegue pensar e definir tantas coisas e, mesmo assim, achamos que o tempo passa tão depressa...
Nestes segundos de reflexão resolvi não desafiar as leis vigentes no país, seguir os conselhos de Caetano e deixar a boçalidade de lado.

            Mas tais ecos de civilidade, reflexão, crítica social, poesia e MPB se resumiam ao meu carro. O motorista que vinha logo atrás, provavelmente ouvindo um axé ou música sertaneja, não compartilhava desse meu momento de reflexão.
Deu no que deu...
Aprendi a lição...

            Há leis não escritas que não se deve desafiar. Temos que nos adequar à cultura do povo de um país, mesmo que não concordemos com ela.
Aqui o sinal amarelo pertence a quem vai passar, até alguns momentos após se tornar vermelho, talvez isso algum dia mude, mas por ora...

            Em todo país existe algo semelhante.
            Em alguns tem de se arrotar para demonstrar que apreciou a comida que foi servida pelo anfitrião.
            Na China as pessoas tem o hábito de cuspir no chão e não importa o lugar.
            No Afeganistão é costume contar o final dos filmes para quem ainda não os assistiu.
        
            Sobre algo semelhante me lembro que há alguns anos atrás, o ex-deputado Genival Tourinho me deu uma carona de Bocaiúva para Montes Claros, e comentou que sempre dava carona, pois viajou pela Europa inteira só pedindo carona. 
E contou uma história curiosa, e que confirma a fama de alguns povos europeus.
Certa vez ele estava hospedado em uma pousada e, antes de sair pagou um banho, os banhos eram pagos à parte e à vista, tomou o banho e saiu logo depois.
Passadas algumas poucas horas ele chegou suado e, com o dinheiro na mão, pediu outro banho.
A dona da pousada com um cara de espanto, disse: você está louco??? Dois banhos num só dia?? Louco, louco, louco!!!           
             
            Isso me lembra outra história: um jornalista da Folha de S.Paulo em viagem a um país europeu, notou que os jornais ficavam expostos em um local em que as pessoas retiravam o jornal e colocavam a moeda do valor do jornal por um orifício.
Então ele parou um morador da cidade e comentou que no Brasil não havia aquilo, e disse: E se alguém retirar o jornal e não colocar a moeda?
Ao que o morador atônito disse: Mas quem faria isso???
E o jornalista, se dando conta da besteira que perguntara disse: realmente você tem razão! Quem faria isso?



Quem quiser ver os outros posts da série: Começar já é metade de toda a ação, clique neste link:
http://flaviocolares.blogspot.com/search/label/Come%C3%A7ar%20j%C3%A1%20%C3%A9%20metade%20de%20toda%20a%20a%C3%A7%C3%A3o

Aqui o video da música Podres Poderes numa grande interpretação ao vivo do Capital Inicial(com Murilo Lima no vocal): http://www.youtube.com/watch?v=LxM72T3opBE&feature=related.

4 comentários:

Dafne disse...

Flávio, que texto gostoso de ler. Entretenimento e informação de qualidade!! Adorei!! Abraços,
Dafne

Flávio Colares disse...

Dafne,fico lisonjeado em saber que tão inspirada poetisa aprecia meus posts. Também adoro seus poemas e pensamentos no seu blog:
http://dafnestamato.arteblog.com.br.
Um grande abraço!

Carolina Augusta disse...

Flávio lendo seu texto me lembrei de Padre Inácio, ele sempre foi a frente de seu tempo. Certa vez tentou formar uma cultura do uso na Paróquia São Sebastião, os livros de canto ficavam disponíveis aos fieis, cada um podia usar e ao final da missa devolvê-lo, mas a lógica gersoniana de levar vantagem em tudo vigorou, os livros foram na sua maioria furtados descaradamente - resultado ideia frustada e boicotada. O mesmo ocorreu no supermercado Bretas e na época Opção os conscientes fregueses iam fazer suas compras e junto levavam seus carrinhos para casa sem devolução, dá para acreditar? - resultado - passou-se a controlar saída e entrada, ou seja aumento de custo. Fianalizando, um povo que furta livro de canto da igreja, furta carrinho de compras do supermercado, fura iogurte para tomar dentro do supermercado quer o quê? A alma dos poetas tem resposta?
A mediocridade impera e os rumos .......... Ufa quem sabe? Indignação total.

Flávio Colares disse...

Oi Carolina, realmente o padre Inácio é uma pessoa muito especial e tentou fazer o certo.

Quando digo que não se pode ir contra a cultura de um país é exatamente em função da cultura de se levar vantagem em tudo.
É uma triste constatação, mas existem muitas assim como você;pode ser que no futuro as coisas mudem, temos de tentar mudar isso, mas, enquanto não conseguimos temos de levar isso em conta.
Um grande Abraço pra você!

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