sábado, setembro 17

Viva Zapátria!!!

           
            Esse meu sangue fervendo de amor
Aterrisam falcões, onde estou?
Carabinas, sorriso, onde estou?
Um compromisso a sirene chamou
Duplicatas, meu senso de humor
Se perdeu na cidade onde estou
Viva Zapátria, saudou esse meu senhor
Beijos, abraços, ano um chegou
Salve Zapátria, ê, viva Zapátria, ê
Esta cidade foi uma herança só
Viva Zapátria, saudando o senhor
Horizonte aberto onde estou
Esta América mãe onde estou.
         Viva Zapátria (Sirlan /Murilo Antunes)


Acompanhando os hoje burocráticos desfiles de 7 de Setembro, me veio à mente uma história que havia tomado conhecimento de relance há algum tempo atrás. Ouvira falar mas não me aprofundara nela. Ficou adormecida e ressurgiu agora.
A razão de ter ressurgido, quem saberá? A mente sempre nos surpreende, não é mesmo? Nos leva por caminhos pouco prováveis, avenidas desconhecidas, buscando novos caminhos em nós, sem mais nem por quê...

Mas vamos à história. Ela é ambientada em 1972, no auge do regime autoritário iniciado em 1964.  Num tempo em que tinha de se pensar para não falar algo que não se queria falar, e pensar mais ainda para se falar algo que se queria falar, mas que não se podia falar...
Essa segunda opção retrata bem a música Viva Zapátria de Sirlan e Murilo Antunes, que foi apresentada no Festival Internacional da Canção de 1972 por Sirlan, acompanhado por Flávio Venturini nos teclados e por Beto Guedes no contrabaixo (na época dois desconhecidos). Festivais que eram então a melhor forma de se sobressair e fazer sucesso de forma imediata.
A música fazia uma clara alusão ao regime autoritário de então, usando de muitas metáforas para retratar a situação que o país vivia e, principalmente, a vida de quem se opunha ao regime e vislumbrava um futuro melhor. Fazia um trocadilho entre o nome do guerrilheiro mexicano Zapata e Vivas à Pátria, numa letra aparentemente simples, mas que era um soco no estômago da ditadura.
A história de como, inexplicavelmente, Sirlan e Murilo Antunes conseguiram ludibriar a censura chega a ser hilária e pode ser vista num dos links do final deste post.
Mas essa pequena vitória custou caro a Sirlan. A ditadura soube ser cruel e acabou com a carreira musical dele. Ele havia assinado um contrato para a gravação de um disco com a gravadora Som Livre logo após o festival, mas o regime, percebendo que fora enganado, passou a censurar toda e qualquer música onde houvesse a menção do nome de Sirlan, e assim o contrato com a Som Livre teve de ser rescindido. Sirlan só conseguiu gravar um disco em 1979, quando quase ninguém mais se lembrava dele nem do festival.

Isso me fez refletir: Quantos hoje teriam a mesma coragem? Quantos não se sacrificaram para que hoje pudéssemos estar aqui num país livre e democrático?
Quantos heróis ainda estão ocultos em nossa história?

Sabendo disso hoje, tenho a sensação de ter sido sinto assaltado!!!
Por muitos anos roubaram essa história de mim!!!   



Um clipe com a música Viva Zapátria:

            Aqui um depoimento muito interessante de Murilo Antunes, explicando como fizeram para conseguir enganar a rígida censura da época. 

A biografia de Zapata:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Emiliano_Zapata,

Essa história pode ser relatada com a valiosa  colaboração dos blogs abaixo:

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