terça-feira, fevereiro 15

Começar já é metade de toda a ação IV - A complacência do mundo...

Era a primeira vez que ficava sozinho em casa.
Não sei por qual motivo, mas estava sozinho.
Cinco anos de idade e sozinho em casa...
Parafraseando Glauber Rocha, tinha uma casa na mão e várias idéias na cabeça...

Mas antes que a mente de vocês se percam entre tantas possibilidades, vou frustrá-los.
Desde pequeno eu nunca fui dado a diabruras, por isso dentre todas as idéias da minha cabecinha, resolvi priorizar uma boa ação.

Meu pai havia prometido havia um bom tempo para os nossos melhores amigos umas miniaturas de móveis que ele fazia, mas ele estava demorando muito e nossos amigos todo dia cobravam.
E de tanto cobrarem ele finalmente havia começado e agora faltava pouco para terminar.
Tão pouco...
 
Então aquela  idéia tomou conta dos meus pensamentos e não consegui resistir.
Imaginei-me o próprio Peter Pan, ajudando os adultos a resolver os seus problemas...

Tomada a decisão, fui em direção ao armário, peguei as miniaturas e o material que ele usava.
Já tinha visto meu pai fazer aquilo várias vezes e aquelas, que sorte, já estavam na fase de acabamento, era só retirar os excessos e o trabalho estaria pronto.
Uma imagem se formou na minha mente: Todos me abraçando, de tão contentes!!!

Então comecei ...
Meus dedos entrelaçaram pela primeira vez uma tesoura. Era um pouco mais pesada do que eu pensava, mas as dificuldades são para serem vencidas!
Fiz o primeiro corte na lateral do encosto do sofazinho. A lâmina cortou bem rente. Da segunda vez cortou além da espuma revelando a parte de dentro. Parecia ser bem mais fácil quando meu pai fazia, mas já que havia começado, teria de terminar.
E assim foi...

Não demorou muito e meu pai e minha mãe chegaram, e junto com eles, os amigos, beneficiários diretos do meu esforço.

A primeira coisa que meu pai notou foram as miniaturas na mesa. Olhando para elas falou: Meu filho, o que é isso?
O seu tom de voz, para meu espanto, não demonstrava muita aprovação, muito pelo contrário.
Mesmo me sabendo em apuros, respondi firme: Sabe pai, é que você estava sem tempo para terminar e eu resolvi ajudar...
Ao terminar de falar, vi a troca de olhares entre todos os  adultos. Era um olhar diferente, misto de aprovação, cumplicidade, como a dizerem um para o outro, sem palavras:
Coisa de Criança!!!

Nessa hora percebi que o meu trabalho não ficara bom, mas também aprendi uma lição: mesmo que você erre, se teve uma boa intenção as pessoas levarão isso em conta e certamente o perdoarão.

 
Obs.: Não leve isto muito em consideração caso tenha mais de cinco anos de idade...

2 comentários:

debora disse...

que legal ess texto... achei o blog por um acaso e tive bons minutos de leitura. brigada!

Flávio Colares disse...

Que bom que gostou, Débora!
Não precisa agradecer, é gratificante saber que algo que escrevemos agrada às pessoas.
Já que agora sabe o endereço, volte sempre, a casa é sua!

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